quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Evil Friends

Portugal. The Man                                                                                7/10
Atlantic Records, 2013





"Irregular brilhantismo"


   Existe algo de muito curioso, diria até perturbador, sobre a forma de fazer música dos Portugal. The Man, forma essa que os torna bastante difícil de categorizar. As suas melodias alegres e inocentes que clamam pela designação "pop" contrastam tanto com a sua instrumentação mais rock, como com a sua atitude e estilo tipicamente indie. Estas características conjugam-se nesta banda do Alasca para a criação de uma sonoridade que, simultaneamente diversa e coerente, doce e agressiva, é certamente propensa a maravilhar. "Evil Friends" pode não ser infalível, ou sequer excelente, mas vem provar a bela dinâmica desta banda e a afinada capacidade dos Portugal para escrever músicas simples, mas com grande potencial.

   O sucessor de "In The Mountain in the Cloud", e o disco que, após seis "full-lengths", veio finalmente dar alguma visibilidade a esta banda, é curiosamente bastante difícil de digerir para quem não está habituado a este estilo de música. As melodias, que são, de facto, bastante contagiantes e de grande qualidade na maioria das ocasiões, são aqui muitas vezes dispostas forma bastante inortodoxa, e quando isto não se verifica são frequentemente confrontadas com texturas incomuns ou efeitos distorcivos. Tudo isto é cortesia de Danger Mouse, chamado a produzir o sétimo álbum dos Portugal. The Man, e cujas marcas são bastante visíveis com o decorrer do disco. Tão visíveis, diria, que este álbum teima em lembrar outro dos recentes trabalhos do aclamado produtor: "El Camino", dos Black Keys. E embora Danger Mouse tenha deixado a desejar em muitos aspectos com este último, não se pode dizer que o seu trabalho tenha prejudicado "Evil Friends".

   O álbum é recheado de excelentes músicas que após a primeira audição deixam o desejo pela segunda, e a sua magia encontra-se não raro nos pequenos detalhes: a inesperada secção de sopro em "Creep In A T-Shirt"; a deliciosa abertura a piano e guitarra da faixa-título, "Evil Friends"; ou os viciantes tons de sintetizador em "Purple, Yellow, Red and Blue" e "Modern Jesus". Destaque também para o baixo e a componente rítmica, irrepreensíveis neste disco, com assinatura inconfundível da produção de Danger Mouse. Para além disso, as estruturas musicais aqui implementadas criam uma atmosfera muito própria, que dá ao álbum um "feel" que o distingue da maioria dos álbuns de rock, e que o torna... bem, épico. Exemplos disso estão espalhados por todo o álbum e vão desde a breve referência de "Creep" a "Evil Friends" e o estrondoso "breakdown" de "Sea of Air" ao belíssimo "outro" de "Atomic Man" e a fantástica introdução prolongada de "Waves", com um piano de base acompanhado por um brilhantemente executado solo de guitarra. O seu expoente máximo, no entanto, é "Plastic Soldiers", que com sua estrutura tripartida, temas desesperadores e instrumentação comovente, é nada mais nada menos que maravilhoso.

   Contudo, há muito aqui que impede "Evil Friends" de ser justamente considerado um "excelente disco". Em primeiro lugar, sofre bastante pela inconstância: sendo eficaz nos seus pontos fortes, acaba por falhar demasiado nos fracos para gozar de verdadeira coerência. "Hip Hop Kids" e "Hallelujah (Holy Roller)" são aceitáveis, mas não vão muito além, caindo um pouco na irritante tendência do "arena rock". Já "Someday Believers" e a encerradora "Smile" são completamente dispensáveis, passando o álbum mais que bem sem a sua perturbadora presença. Liricamente, o disco tem os seus momentos, mas sofre da mesma irregularidade. Versos como "Think we give a shit, well/We don't", "But the military's still got more in its budget" e "When I grow up I wanna be/A rich kid born celebrity" soam, se não ridículos, mal colocados pelo menos. A banda parece buscar uma identidade lírica que, oscilando entre a presunção, a rebeldia e a incerteza, ainda não foi encontrada.

   Não obstante estes factores menos positivos, e o facto da mistura de pianos, sintetizadores e guitarras eléctricas e acústicas parecer muitas vezes exagerada, "Evil Friends" continua a ser um grande disco. Destaque para as excelentes "Plastic Soldiers", "Evil Friends", "Atomic Man" e "Waves", sem dúvida os melhores esforços deste conjunto. Com sua boa dose de batidas intrigantes, refrões arrebatadores e uma riqueza instrumental vastíssima, o sétimo disco dos Portugal. The Man não desapontará a quem lhe der a oportunidade.



Sem comentários:

Enviar um comentário